O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) no Brasil, através do Projeto Tapajós, em parceria com o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), realizou entre os dias 1 e 2 de agosto uma capacitação multidisciplinar para a identificação, referenciamento e assistência a vítimas de tráfico de pessoas em Santarém, na bacia do rio Tapajós.
A capacitação reuniu representantes de instituições governamentais locais e nacionais, do Poder Judiciário, de organizações da sociedade civil e da rede local de assistência social, além de um representante da seção de Tráfico de Pessoas e Contrabando de Imigrantes (HTMSS) do UNODC em Viena, Áustria.
Como a primeira capacitação sobre tráfico de pessoas promovida pelo UNODC na região, o evento de dois dias incluiu apresentações sobre os elementos que constituem o crime, métodos de recrutamento, formas de exploração, indicadores de trabalho escravo, produção de provas, o papel das instituições, e temas sobre trauma e saúde mental das vítimas, além da identificação e responsabilização dos autores.
A programação também contou com atividades em grupo, estudos de caso e uma metodologia de entrevista simulada para identificação de vítimas de tráfico de pessoas. "O tráfico de pessoas é um crime que precisa ser reconhecido para ser enfrentado, mas ainda é invisibilizado em diferentes níveis. Por isso é fundamental que a rede seja capacitada para identificar e atender as vítimas de tráfico – que muitas vezes não se reconhecem como tal – e o Estado seja capaz de investigar e responsabilizar criminalmente os perpetradores", afirmou Herena Melo, promotora agrária do Oeste do Pará e coordenadora auxiliar do Núcleo de Proteção à Mulher do MPPA, na abertura da capacitação.
A mesa de abertura também contou com a presença de Celsa Brito Silva, secretária municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtras) de Santarém; Lilian Braga, promotora de Justiça de Santarém; e Savia Cordeiro, oficial de monitoramento e avaliação do UNODC. Entre os painelistas, estavam Alline Pedra, oficial de prevenção ao crime e justiça criminal do UNODC em Viena; Eduardo Serra, procurador do Trabalho (MPT); Andreia Minduca, secretária executiva da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae); José Weyne, auditor-fiscal do Trabalho; Graziela Sereno, psicóloga e integrante da Comissão de Direitos Humanos da Alerj; e Francisco Alan, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e membro da Coetrae-PA.
Um dos destaques da capacitação foi o exercício de entrevistas simuladas para identificação de vítimas de tráfico de pessoas, com metodologia baseada em um manual do UNODC com lições aprendidas de exercícios semelhantes realizados em outros países signatários do Protocolo de Tráfico de Pessoas. Durante a simulação, os participantes foram introduzidos a conceitos teóricos sobre o tráfico e, posteriormente, trabalharam em um cenário realista envolvendo trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão em garimpos no Pará.
O exercício, conduzido pela equipe do UNODC e especialistas convidados, faz parte da estratégia do Projeto Tapajós de trazer metodologias inovadoras para capacitações futuras.
Fonte: MPPA e UNODC